O centro dos problemas envolto em cortina de fumaça
O ano começou animado com o Oriente Médio no centro das atenções. Porém, é importante notar que os fatos geopolíticos encobrem uma questão de fundo muito mais relevante – a desaceleração da economia global.
Talvez isso esteja por trás das manifestações que ocorrem de Santiago a Beirute, e do descontentamento popular no Irã. O baixo patamar dos preços do petróleo e de outras commodities são sintomas de uma doença que tanto os estímulos do FED e do Banco Central da China não conseguem apaziguar, tendo causado, inclusive, a significativa desaceleração das economias latino-americanas e do Oriente Médio no ano passado, especialmente nas regiões periféricas não petrolíferas que dependem de fluxo de capital das petrolíferas.
Apesar dos esforços de diversificação na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes, a dependência da região de combustíveis fósseis ainda é relevante. O Irã sofre adicionalmente das sanções americanas e da queda no nível de produção.
Enquanto a Turquia, a Argentina e o Brasil viram suas moedas perderem valor significativamente no último ano, o modelo de peg ao dólar, que ainda prevalece no mundo árabe, é uma hemorragia limitante em um mundo de crescimento baixo e commodities estagnadas. Afinal de contas, as brigas do Trump, tanto com a China como com o Irã, não passam de cortina de fumaça do fenômeno de fundo que é a estagnação da economia global neste começo de nova década, e que ainda não soube curar as feridas da crise de 2008.
É preciso repensar o modelo, onde sustentabilidade e inclusão sejam palavras-chave, já que atingimos o limite de estímulos dos BCs e a política, cada vez mais, prega surpresas ingratas. Isso sem falar do esgotamento do meio ambiente, da erosão social e da falta crescente de transparência dos governos e que deve preocupar todos os investidores com orientação ESG.
Definitivamente o problema não é o Irã nem vai se resolver com mais sanções.
Roberto Nemr
é economista formado pela USP, com cursos de análise de investimento pela City University, London. Possui experiência de mais de 30 anos em mercados financeiros como analista e gestor, além de ter exercido funções de advisory e em áreas de M&A. Trabalhou em instituições de renome como a Genesis Investment, Itaú Latin America, Wol Partners e Southpointe Capital.
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Catarina Pedrosa
é graduada em Matemática com MBA em Finanças pela FGV e em Agronegócios pela ESALQ. Tem 30 anos de experiência nos mercados financeiros local e internacional, em equity research e em administração de fundos de renda fixa, variável e imobiliário, tendo trabalhado em instituições de renome como BES, Banif, BBVA e Nomura. Membro do grupo de estudos de Finanças Verdes, Possui certificações CGA e CNPI.
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Fonte: http://www.revistari.com.br/238/1566
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